A bela e a fera

A bela e a fera
arte de Mateus Rios, para adaptação realizada por Susana Ventura

domingo, 25 de outubro de 2015

O tambor africano e outros contos dos países africanos de língua portuguesa

Esta é uma coletânea de histórias recontadas a partir da tradição popular dos países africanos de língua portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. O continente africano foi dividido artificialmente pelos colonizadores europeus desde que lá chegaram, porém esta divisão radicalizou-se a partir da Conferência de Berlim, que durou alguns meses, entre o final de 1884 e meados de 1885. Naqueles meses, as principais potências colonizadoras, tendo à frente a Inglaterra, protagonizaram uma divisão da África com régua e compasso e decidiram a exploração imediata e radical do continente, que já vinha sendo espoliado e explorado há séculos. Couberam a Portugal, nesta divisão cruel, cinco diferentes territórios: os arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, e, na área continental, o pequeno território da Guiné-Bissau e os dois grandes territórios de Angola (voltado para o Atlântico) e Moçambique ( voltado para o Índico). Os países africanos de língua portuguesa tornaram-se independentes de Portugal em 1975 após uma luta prolongada, dolorosa, absurda e sangrenta, que ceifou as vidas e os sonhos de milhares de pessoas durante mais de uma década, condenando muitos dos sobreviventes a viverem em péssimas condições até os dias de hoje. Conhecer a história dos países africanos de língua portuguesa é uma oportunidade rica e única. Penso que esta coletânea possa ajudar na construção do conhecimento brasileiro sobre a questão ao permitir a aproximação dos leitores ao rico imaginário dos cinco países africanos. Grande parte do material em que se baseou este livro é muito antigo e foi recolhido muito antes do sonho das Independências. As histórias que aqui se recontam foram coletadas por folcloristas, professores e missionários religiosos a partir do século XIX, em línguas diversas. Na Bibliografia, colocada ao final do volume, as fontes de pesquisa são descritas com precisão. Espero, com este trabalho, possibilitar um contato dos leitores brasileiros com o rico acervo narrativo dos países africanos de língua portuguesa, e ajudar na propagação do conhecimento sobre a África, conforme o recomendado por duas excelentes leis federais: a Lei 10639/2003, que tratava da necessidade de estudo e conhecimento de questões da África e da afrodescendência, e a Lei 11645/2008, que determina o estudo das questões em torno das culturas indígena e africana, ampliando, no que diz respeito à África, o que estava determinado na lei anterior. As histórias são mais curtas do que costumam ser as de padrão europeu, o que, a princípio pode causar estranhamento nos leitores acostumados às narrativas ocidentais. Na medida do possível busquei recontar histórias bem variadas: contos etiológicos e lendas, histórias de cunho filosófico ou de sabedoria e, ainda, narrativas com reis, rainhas, príncipes e princesas, para além das esperadas fábulas. Procurei ‘naturalizar’ elementos de civilização, sem explicá-los de maneira didática mas mantendo sua integralidade: assim sendo aparecem nas histórias, em itálico, palavras como muamba, cachupa, lobolo, embondeiro, contextualizadas de maneira a serem compreendidas. Que a leitura e fruição dessas histórias nos ajude a conhecermos melhor os países africanos de língua portuguesa e possam colaborar para a ampliação de nossos horizontes.

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