A bela e a fera

A bela e a fera
arte de Mateus Rios, para adaptação realizada por Susana Ventura

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Projetos que correm (ou caminham, ou rastejam) em paralelo

A rotina da escrita é...rotina mesmo.Para os que escrevem profissionalmente, faz parte do tecido dos dias. No meu caso específico: Escrever, ler, reler, consultar fontes, voltar a escrever, parar um pouco. O interessante de observar são os caminhos da divulgação do trabalho. Um projeto concluído há anos ainda não conseguiu chegar à etapa de divulgação e, por vezes, outro projeto, recém concluído, chega rapidamente ao público, poucos meses após sua conclusão. Hoje contemplei por alguns minutos a ilustração para um trabalho que estará logo nas ruas, resultado de um projeto milagrosamente rápido (em tempos de crise profunda na área editorial foi ainda mais excepcional). É uma beleza, realmente. Um ilustrador sensível com o qual eu sonhava trabalhar há algum tempo. Sim, eu tenho uma lista de gente bacana com a qual desejo parcerias - e venho conseguindo realizar algumas. Os processos andam, correm, rastejam - cada qual no seu ritmo - enquanto eu sigo com a prosaica rotina de ler, escrever, reler, consultar fontes, parar um pouco (como agora, para escrever este post).

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Rapunzel - ontem e novamente

Acabei de ler um livro excelente sobre as releituras de Rapunzel ao longo do tempo. 'The rebirth of Rapunzel', da australiana Kate Forsyth. O livro é de 2016 e ainda não tem tradução no Brasil. Um estudo bacana, de escritora que mergulhou em pesquisa para fazer, ela mesma, um reconto a partir do conto de fadas. Na minha experiência pessoal, como professora universitária que ministra cadeira de Literatura Infantil, não se passa um só ciclo de aulas sem que haja um pedido pelo 'original' de Rapunzel (versão Grimm). Já tenho até digitalizada uma cópia. É o segundo conto mais pedido. O primeiro tem sido 'A bela e a fera' (imagino que, em breve, haverá pedidos para 'A Rainha da Neve', de Andersen). Há cerca de um ano encontrei duas outras versões de Rapunzel, em obras de mulheres escritoras de contos de fadas. Traduzi ambos (do inglês), e tenho trabalhado sobre eles. Curiosamente, no início do segundo semestre de 2016, fugi de recontar 'Rapunzel'. Estava envolvida num projeto de recontos e, quando a lista chegou para escolher eu preferi fugir de Rapunzel. Achei que não saberia lidar com o tema, abandono, aprisionamento, desejo, paixão, exílio, solidão, maternidade, sofrimento amoroso...Porque o conto É tudo isso. Hoje, passados tão poucos meses,acabo o livro de Forsyth pensando que, da próxima vez, eu vou encarar o desafio. Mas, por enquanto, vou ler as versões dos outros e pensar, e continuar pensando.

"A vizinha invisível"

Assim disse um dos meus vizinhos de porta agora no princípio do ano: "Chamamos você de 'a vizinha invisível'. Não sabemos nunca quando você está em casa, só quando, por acaso, vemos você na porta do elevador. Acho que passa a maior parte do ano em Portugal,não é?". Respondi com uma risada mas, sinceramente, não sei se a constatação da aparente invisibilidade me fez bem. Sinto falta de Portugal (onde sou ainda menos 'visível' do que aqui) e gostaria que milhares de milhas se acrescentassem à minha conta todas as vezes que fantasiassem delírios sobre a minha vida.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Como resistir?

Um novo ano começa e algo que me mobiliza é saber como resistir. Em tempos de ódios exacerbados e crise do pensamento, problemas econômicos que fizeram com que a minha atividade ligada aos livros no Brasil se tornasse uma modalidade de voluntariado, qual seria a melhor atitude? Sim, é tempo de pensar e conceber planos, porque creio que uma autora de livros majoritariamente destinados a jovens leitores precisa assumir posições neste momento de crise profunda. Não sei como são os outros escritores, como se sentem realmente. Só posso saber de mim. Difícil é pensar no buraco que vai ficar na formação de jovens leitores que já não receberão os livros que deveriam ter sido selecionados, licitados, comprados e distribuídos (era um trabalho grande e significativo, que já não é feito há pelo menos três anos). Pode-se dizer que não era suficiente o que se fazia, mas era importante e relevante. Quanto às vendas em livrarias, elas já eram muito pequenas e, pela mudança de realidade que sofremos, são agora irrelevantes. Até as bancas de jornais - onde também se encontram alguns dos meus livros - para minha grande surpresa estão sendo fechadas por este imenso país (o que diminui a possibilidade de sua atuação como veiculadoras de literatura para crianças e jovens. E sim, seu papel é muito importante com tão poucas livrarias). A vida desta escritora não sofreu alterações em termos de produção e dedicação ao universo dos livros, com a consequência esperada: tive que trabalhar mais, usando algumas outras habilidades pessoais para conseguir pagar o mesmo número de contas (de uma vida que é bastante simples). A lógica determinaria que eu devesse reduzir minhas horas de dedicação ao que, afinal, não está 'rendendo nada'. Mas quem disse que eu consigo me convencer disso? Pelo contrário, tenho pensado em como continuar realizando meu papel e fazer com que o que escrevo chegue aos jovens leitores. Porque considero que o que eu faço pode ser útil a um jovem leitor exatamente neste momento de sua vida. Saberei encontrar saídas? É a grande questão deste início de 2017