A bela e a fera

A bela e a fera
arte de Mateus Rios, para adaptação realizada por Susana Ventura

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Nova pesquisa

Começando nova pesquisa e torcendo para ter juízo suficiente para deixar disso. Prevejo mais alguns anos de dedicação inútil, pontuados por pequenas alegrias e alguma dificuldade para pagar as contas do mês...

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Lendo e pensando

Verão chegando forte, uma ótima estação para ler e estudar (enquanto se espera o melhor momento do dia para dar um passeio). Férias, sempre bem vindas!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Um novo trabalho... (arte de Roberta Asse)

A linda ilustração criada por Roberta Asse é parte da capa de um novo trabalho. Novamente resultado de uma bolsa de criação (como foi "O caderno da avó Clara"). O que virá por aí? Alguém arrisca um palpite?

Sobre os Selos Cátedra (Unesco de Leitura da PUC Rio de Janeiro)

Sobre os Selos Cátedra Unesco de Leitura da PUC Rio de Janeiro: http://bllij.catedra.puc-rio.br/index.php/selos/ E aqui está a resenha do livro, feita por Denise Ramalho: http://bllij.catedra.puc-rio.br/index.php/2016/12/05/o-caderno-da-avo-clara/

62a. Feira do Livro de Porto Alegre

Uma vez mais estive na Feira do Livro de Porto Alegre no início de novembro. Desta vez houve uma diferença: estive no programa Adote um Escritor, da Câmara Riograndense do Livro. Uma escola pública me adotou, ou seja, leu todos os meus livros publicados até o momento e preparou uma linda recepção para mim. Foi a EMEF Porto Novo (Página FB - https://www.facebook.com/emefportonovo/?fref=ts), que me propiciou uma linda manhã em 8 de novembro e ainda outro encontro, no centro de Porto Alegre, em 10 de novembro. Como descrever a emoção de ser recebida com amor e conversar sobre o que eu escrevi com centenas de crianças e jovens? Muito carinho, muita dedicação. Foi uma grande experiência.

"O caderno da avó Clara" vai fazendo seu caminho

Meses após a chegada do meu exemplar de autora de "O caderno da avó Clara" este livro já fez um belo caminho. Começamos em junho com lançamento em Ribeirão Preto, na Biblioteca Padre Euclides (onde estive tantas vezes em ações sempre felizes, também como ouvinte), prosseguimos com uma noite de conversa e autógrafos na Livraria da Travessa de Ribeirão e, já no início de dezembro fizemos lançamento em São Paulo na Livraria da Vila da Fradique, lugar que frequento sempre. Logo após o lançamento tivemos uma ótima notícia, o livro recebeu Selo de Seleção da Cátedra UNESCO de Leitura da PUC Rio de Janeiro. Os livros são sempre mistérios para nós que fazemos parte da sua elaboração. O que será que vai acontecer agora com este título tão especial?

quarta-feira, 23 de março de 2016

Texto da quarta capa de "O caderno da avó Clara"

Mudança pode ser bom, mas contra a vontade é de matar! É isso o que pensa Mari, deixada pela mãe na companhia de um pai que é um desconhecido completo e que, ainda por cima, mora num lugar distante. Mas não se assuste, este não é um livro de terror (embora tenha muitos dragões): a história de Mari vai se revelar uma aventura, a partir do encontro dela com o caderno de histórias de sua avó e da descoberta da arte de Portinari. O caderno da avó Clara é um convite para conhecer um universo de histórias intrigantes que parecem capazes de iluminar o presente de Mari, uma heroína valente e moderna, que enfrenta desafios munida de um bom sinal de internet e um ótimo senso de humor.

terça-feira, 22 de março de 2016

A capa linda criada por Carla Irusta para ‘O caderno da avó Clara’

Que beleza a capa criada por Carla Irusta! Aqui está Mari e do livro que está aberto em seu colo, dragões, chamas e flores pulam para o mundo real. Ah, que lindo o trabalho de Carla Irusta! E a ela se juntou outra Carla, a Arbex, para realizar o projeto gráfico. E tudo isso orquestrado pela editora Gabriella Plantulli, que primeiro leu o texto e o levou a conhecimento da equipe da SESI Editora. Obrigada mesmo a todos os que ajudaram a tornar ‘O caderno da avó Clara’ este livro tão especial!

segunda-feira, 21 de março de 2016

Uma bolsa de criação: promessa de vida que agora se materializa

O final de 2013 trouxe-me uma notícia muito boa e muito honrosa: minha candidatura a uma Bolsa de Criação de Literatura Infantil ou Juvenil junto ao ProAC (Governo do Estado de São Paulo) tinha sido contemplada com uma das cinco bolsas disponíveis. O projeto ‘Clara, Fabiana, Mari’ era uma proposta de romance juvenil, centrado na história de Mari, uma adolescente de 13 anos que vai descobrir uma nova face de sua vida na cidade de Brodowski, terra natal do pintor Candido Portinari. Dez meses de trabalho intenso de pesquisa e escrita, um mês preparando a oficina/ contrapartida social que aconteceu na Biblioteca de São Paulo em dezembro de 2014 e, depois, muitos meses em busca de uma editora que abraçasse a ideia de transformar o texto em livro. Finalmente neste março de 2016 o livro chega às livrarias de todo o país. Obrigada a todos os envolvidos, especialmente aos jurados do ProAC 2013, Marisa Lajolo, Heloísa Prieto, Maria Zilda da Cunha, Ricardo Ramos Filho e Fernando Paixão pela confiança no projeto. Sem a Bolsa de Criação Literária concedida não seria possível realizar este livro e é com muita alegria que recebi a prova da capa, com a identificação visual do Programa de Ação Cultural. Viva o ProAC!

domingo, 13 de março de 2016

Minhas leituras - ´As aventuras de sargento verde´, de Helena Gomes

Domingo, 13 de março Ler ao acordar é um prazer cultivado a que nem sempre posso me render. Mas neste domingo eu pude. Havia deixado ´As aventuras de Sargento Verde´, de Helena Gomes (ilustrações de Agatha Krétli - Editora Biruta) pela metade e fui terminá-lo. Gostei muito. O livro lindo: projeto gráfico, ilustrações e... texto! Que beleza ver mais um livro tão bom para jovens. Agora é esperar que ele chegue realmente aos jovens. Sexta-feira próxima, 18 de março, às 15 horas, apresentarei o livro na Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Venham todos!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

'Para maus tempos, bons livros' - o desafio!

Ontem terminou, entre sorrisos e olhares emocionados, 'Para maus tempos, bons livros: um percurso por livros destinados a jovens leitores', na Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Cinco encontros em seis semanas. Todos os participantes tiveram muito trabalho e foram valentes. Defrontar-se com questões como guerra,(i)migrações, exílio, com questões relativas a refugiados no mundo e, em contraponto, ver como a vida também pode ser complicada em tempos de aparente paz não é tarefa fácil para ninguém. O elenco de livros foi, no mínimo, desafiador. Comecei a me desesperar (literalmente) quando vi o que houve na Hungria em setembro passado. A massa humana amontoada na estação de trem de Budapest e toda a loucura que se seguiu mexeram comigo. Antes disso já acompanhava apreensiva, triste, estarrecida, às levas de pessoas que vagavam pelo Mar Mediterrâneo... Mas setembro foi demais. Sentindo-me mal, pensei o que eu podia fazer: comecei a juntar livros e vaguei eu mesma, bem perdida, em visitas aos lugares que costumam acolher meus projetos, dizendo que queria falar sobre isso, que queria ler livros para jovens PARA e COM adultos para ver se a gente podia acordar. Ouvi vários 'nãos'. A Casa das Rosas disse 'sim' (como sempre). Fizemos juntos o percurso e agradeço. Fiz alguma coisa, continuarei fazendo mais coisas. Mesmo que elas não movam o mundo, elas movem o mundo de algumas pessoas (disso eu sei). Fizemos um percurso pelos livros abaixo relacionados (e quem se der ao trabalho de olhar a lista, verá que ela tem contrapontos com a vida vivida em paz, mas quando também a vida é difícil e exige luta contínua). Em tempos tão sombrios (ah, como estão sombrios), cada um luta como pode. BRECHT, B. ´A cruzada das crianças`. Editora Pulo do Gato CALI, D. e BLOCH, S. ´O inimigo´. Cosac & Naify CRISTINA, H. e KONO, Y. 'Com 3 novelos'. Planeta Tangerina MARQUES, J.L e RÔMOLO. 'Os meninos da biblioteca'. Editora Biruta MATEO, J.M. e PEDRO, J.m. ´Migrar´. Editora Pallas  MATEOS, M.C. ´Migrando´. Editora 34 BUITRAGO, J. e YOCKTENG, R. ´Eloísa e os bichos´. Editora Pulo do Gato TAN, S. ´A chegada´. SM Editora  GARLAND, S. ´Um outro país para Azzi´. Editora Pulo do Gato VENTURA, S. ´A kantuta tricolor e outras histórias da Bolívia´. Volta e Meia. SILVEIRA, M.J. ´Malcriadas´. SM Editora  M ACHADO, A.M. ´De olho nas penas´. Salamandra.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Sobre curadoria

Realizar curadoria é um desafio bastante complexo. Imagine o leitor a seguinte encomenda: ´Com o orçamento de 150 reais, elaborar um almoço para 6 pessoas. Você não conhece as pessoas, mas tem sobre elas algumas informações: têm entre 10 e 80 anos, escolaridade variável e convém que se sintam agradadas. É também esperado de você que consiga para o almoço o melhor que o orçamento permitir (e que seu conhecimento de culinária saiba trabalhar). O trabalho resultante deve ser leve sem ser inconsistente; inovador sem ser incompreensível; profundo sem ser hermético e popular sem ser superficial. Em tempo: os convidados saberão do cardápio com uns 15 dias de antecedência e... podem sequer aparecer! Mas também pode ser que tragam consigo alguns amigos (ou até mesmo vários amigos). Se vier gente demais é sorte (mas prepare-se para as reclamações).´ Realizar curadoria é mais ou menos isso. Eu particularmente adoro observar esse tipo de trabalho e, no momento, estou integrada à equipe de criação da coleção ´Minha Primeira Biblioteca´, da Folha de São Paulo, o que nos fez trabalhar durante alguns meses num processo delicioso. O ´almoço´ está prestes a ser servido e estamos todos bastante ansiosos pelo resultado. As curadoras do projeto literário foram Maria Silvia Pires Oberg e Januária Alves que, com delicadeza e alegria orquestraram a brigada de escritores que revisitaram 28 clássicos das literaturas europeia e norteamericana para construir textos novos, genuinamente brasileiros e que se mostrassem à altura dos originais que, hoje, dificilmente seriam lidos na sua integralidade (mesmo por adultos). A escolha cuidadosa da equipe, a realização dos convites, a delimitação das datas, a escuta das dúvidas e angústias inerentes ao processo de criação foram apenas algumas das enormes atribuições da curadoria. Agora toda a equipe está à espera. Que venham os leitores. Neste momento, agradeço imensamente às nossas curadoras e à equipe querida da Folha de São Paulo, que propiciou a reunião de gente tão diferente, talentosa e especial.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

'Beleza Negra' chega às bancas, iniciando uma bela Coleção

Uma nova coleção começará a chegar às bancas de jornais no próximo dia 28 de fevereiro. 'Minha primeira biblioteca' traz adaptações de 28 clássicos, realizadas por uma equipe muito competente e querida. Foi uma honra ser convidada por Maria Silvia Pires Oberg para compor o grupo de adaptadoras que trabalhariam sobre clássicos da literatura europeia e norteamericana e colaborar com a elaboração de dois títulos: 'Beleza Negra - Memórias de um cavalo' e 'As aventuras de Tom Sawyer'. Quem me conhece sabe da minha preocupação em ter livros acessíveis (e minha angústia ao perceber os nossos graves problemas de distribuição no Brasil e a ausência de reposição em bibliotecas, para além da falta de livrarias). Assim sendo, o convite para integrar a equipe ao lado de pessoas queridas e também de novos parceiros, trouxe junto a incrível possibilidade de ver dois títulos meus em bancas de jornais. Na primeira semana, 'A volta ao mundo em oitenta dias', do amado Júlio Verne, virá com um título que eu escrevi, a partir do clássico de Anna Sewell: 'Beleza Negra - Memórias de um cavalo'. Estou, é claro, ansiosa para ir à banca de jornal e ver o 'meu' Beleza ali. Ah, este assunto renderá muitos posts, mas agora está na hora de COMEMORAR!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Mistério...

- Temos feiticeira? Sim, sim, temos. - Dragão, temos? Sim, de 3 cabeças, 6 ou 9, pode escolher. Ah, temos um ogro também: gosta de cafuné e tem 3 cabeças. - Não. Esquece o ogro! Ok, esqueço o ogro... - Temos unicórnio? Ih, amiga, unicórnio não temos. É problema? - Não, mas como estamos de objetos mágicos? Temos alguns, preciso verificar. - Então, tudo bem, a gente dá um jeito com uma bota mágica... Bota mágica? Não temos não, temos caixa mágica, serve? - Serve... aliás, ela faz o que mesmo? (Conversa de escritoras no dia da mulher. Um bolinho de chocolate para quem descobrir a identidade das duas)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Eu vou de táxi

Eu vou de táxi... (Fim do evento no Museu do Fado. Táxi para passar em casa, pegar a mala e rumar para o aeroporto de Lisboa. O rádio fala da ventania que vem da Espanha e ameaça fechar tudo... ) - Ai, minha senhora, de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos, já dizia minha avó...e eu me pergunto o motivo. Vai ver alguma princesa que se casou com príncipe de lá e não foi feliz. Aquela gente... (Indo de Pinheiros para Congonhas, o taxista freia na primeira esquina e encosta junto da calçada) - Aeroporto, a senhora disse? Então vamos voltar e pegar a mala. A senhora parece mesmo muito cansada e não dá para viajar só com essa bolsa, não é? Esqueceu a mala, mas não se preocupe: isso é normal... (Mesma noite, chegando ao aeroporto da cidade desconhecida perto da meia noite. Só com aquela bolsa mesmo. O simpático taxista me espera com uma plaquinha na mão. Leio meu nome e aceno. Vinte minutos de viagem até o hotel indicado pelos organizadores da Feira e...) - Susana, assine aqui o boleto. Pronto. Vou lá com você ver se está tudo certo com a reserva. [Protesto!] - Precisa sim, imagina se eu deixo você aqui sozinha e a reserva não está feita E por favor, amanhã não fique andando por aí sozinha. Qualquer problema me telefone, não se acanhe, eu já vi que você não consegue fazer nada sozinha! (Novamente táxi para ir de Pinheiros para o aeroporto de Congonhas) - Se importa de me dizer o nome do seu perfume? Eu vou comprar para a minha mulher. Eu nem sei como me casei com ela porque não acredito no amor . Mas adorei o seu perfume. (Feira literária looonge e o responsável pelo transporte dos escritores, depois de dois dias me ‘transportando’) - D. Susana, pelo amor de Deus como é que ontem à tarde a senhora fugiu de nós e foi tomar ÔNIBUS? Não faça mais isso! Estou com o seu celular aqui e eu vou monitorá-la! Não é porque eu lhe dei o mapa que a senhora pediu que a senhora deva sair por aí como se morasse aqui! A senhora precisa tomar consciência de que é frágil. [Eu sou só espanto e vejo os olhos do interlocutor se encherem de lágrimas de repente] - A gente olha assim para uma pessoa boa como a senhora e se pergunta: que tragédia terá acontecido na vida desta pobre mulher para andar assim sozinha pelo mundo, sem uma ALMA VIVA que a acompanhe? Mas enquanto estiver aqui nós cuidaremos da senhora! (Lisboa, indo do Alto de São João para a Faculdade de Letras) - A senhora gosta de fado? Eu sou fadista. [Digo o lugar que frequento aos sábados] Não posso crer! Eu canto lá aos domingos! Mas cá está o número do meu telemóvel: me avise se vai neste sábado, que passo por lá para cantar um fadinho para a senhora. Aliás, canto um já agora mesmo...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Bilhete - e ele está fazendo um ano...

Faz tempo. 1o. ano do primário. A barafunda de crianças divididas aleatoriamente formava blocos no enorme pátio, que, apesar de sua dimensão, não comportava todas. Filas se espalhavam pelos arredores, desciam rampas, subiam um morrinho de terra batida, desciam de novo pelo cimento, avançavam até o portão da escola. Finalmente entramos para as salas. Primeiros dias de fevereiro: exercícios motores numas apostilas. Aí veio o ‘remanejamento’, após análise do ‘nível’ dos alunos. Classes A, B, C, D, E... até F, G, dependendo da demanda do ano. A,B e C, as classes dos mais ‘espertinhos’, que até aquela fase eram os que tinham mão ‘molinha’ e ‘acertavam’ os tais exercícios motores com melhor exatidão. Entre 40 e 50 crianças em cada sala, uma professora apenas e o grande desafio: ensinar a ler e escrever até setembro, época de receber o Primeiro Livro. Para mim, 1o. ano D antes do remanejamento, depois, 1o. ano A, fila nova acompanhando a professora sorteada para cuidar de nós. Minha professora tinha um nome lindo e eu estava pronta para gostar dela. Acho. ******* Há dois ou três anos me perguntaram sobre ela: - Lembro-me da voz e dos dedos do pé, de unhas sempre pintadas. Ela mudava muito de cor. As unhas cortadas redondinhas... O segundo dedo era muito maior que o primeiro. Ela usava sandálias sempre, mesmo no inverno. E veja bem, que fazia frio lá. ? - Não sei do rosto, não olhava para ela. ? - Dois anos, primeiro e segundo ano. Depois fui para outra escola, do outro lado da linha do trem. ? - Lembro-me também das saias dela – estava sempre de saia - e dos pés. Tem um motivo sim. Acho que tem. ******** A,E,I,O,U, tudo bem. Passamos às sílabas. Ba, be, bi, bo, bu. Ao final de cada jornada com as letras, ir até a mesa da professora ler a página da cartilha correspondente e, se nos saíssemos bem, o grande prêmio, ansiado e maravilhoso: o carimbo no caderno. SIM, eu amava o carimbo – uma Abelha que se podia pintar! E, na volta para a carteira, um loooooongo tempo para pintar a tal abelha (claro, com quase cinquenta crianças para sabatinar, eu poderia ter me tornado Rembrandt se tivesse algum talento...). Hora deliciosa. A cada dia uma novidade para colorir: Abelha, Escola, Igreja, Óculos, Uva. Até que ele chegou: o Cachorro. Lição fácil e o carimbo do cachorro. Uma graça, com o rabo enrolado no ar. Vamos pintar o cachorro. Dia seguinte: lição do cachorro. Vamos pintar o cachorro. Posso fazer manchinhas. Outro dia: lição do cachorro. Listrado. Mais um dia: lição do cachorro. Verde. Dia subsequente: lição do cachorro. Vou rabiscar. Vou abreviar o sofrimento dos meus dois leitores – oi, vocês dois, tudo bem? – 20o. dia: lição do cachorro. Eu espiando o carimbo, já enjoada. Onde será que a professora guardava os outros carimbos? Espichava o olho pela mesa ao repetir novamente as palavras decoradas, já nem acompanhava o dedo que apontava para elas na folha da cartilha. Ah, a professora só trazia para a aula o carimbo do dia... E no dia seguinte e no outro ainda, novamente ‘dia de cachorro’. Ai, meu Deus! Mas havia alguém com mais problemas do que eu. Muitos mais, aliás. Ela. A pobre garotinha que não conseguia ‘aprender’ a lição do cachorro. Seu lugar era lá no fundo. Cabelinho bonito, castanho, liso, repartido ao meio, preso atrás num coque. O rostinho assustado. - CLAUDIOLINDAAAAAAAAAAAAAA! VENHA JÁ AQUI. A professora gritava. A manhã inteira – ou o que me parece hoje que fosse a manhã inteira - ela gritava com a garotinha. A garotinha que não aprendia a lição do cachorro. À minha volta a miudagem se mexia e falava: por causa dela, da Claudiolinda, a gente não passava da lição do cachorro. Cachorro todo dia. Culpa dela. Seis anos e meu senso de justiça apareceu: a culpa não era da Claudiolinda, era daquela agressora com os dedos do pé enormes. Falei um vez só, nem falei, cochichei. Ganhei um beliscão da parceira de carteira. A tortura diária continuou: - CLAUDIOLINDAAAAAAAAAA! A coisa deveria ser intolerável para mim, uma vez que reclamei para os adultos (os mesmos que já tinham me avisado que NUNCA me dariam razão se eu arrumasse QUALQUER problema na escola). Lembro-me do rostinho em pânico da menina a cada vez que era gritado o seu nome. Não durou muitas semanas mais aquele suplício. Claudiolinda foi ‘remanejada’ sozinha para outra sala, passamos para a lição do Dado. A partir dali, a cartilha voou e os carimbos se multiplicaram. Em poucos dias a cota de gritos destinada primordialmente para a Claudiolinda foi redistribuída pelos demais alunos. Para mim sobrou uma fatia pequena: - SUSANAAAAAA, VOCÊ ESTÁ NO MUNDO DA LUUUUUUUA? VIVE SEMPRE NO MUNDO DA LUUUUUUUUUUA. NÃO É POSSÍVEL. SUSANAAAAAA! Dois anos inteiros. Inesperadamente, lá vinha. Assustava um pouco. Incomodava um pouco. Não muito. *************** Por anos, após ganhar alguma autonomia, eu perguntei pela Claudiolinda. Procurei, mas nunca consegui encontrá-la. Mudamos de cidade, inúmeras vezes mudei de escola. Continuei me mudando depois de adulta. Quando tive acesso à internet, sem saber ao certo como funcionava, buscar por informações de Claudiolinda foi das primeiras coisas que eu fiz. Até hoje não consegui encontrá-la, embora continue procurando. Então deixo aqui, no final desta crônica, um bilhete. Quem sabe um dia ele alcance a destinatária? ‘Claudiolinda, eu ainda não te encontrei. E em de 2015 faz 40 anos que a gente entrou no primeiro ano. Queria só dizer uma coisa: no primeiro dia em que aquela professora gritou com você, eu abaixei os olhos e prometi que eu não olhava mais na cara daquela agressora de crianças. E não olhei. Foi só o que eu achei que dava para fazer. Besta, né? Mas foi a única coisa que eu consegui fazer. Sempre que eu penso em você eu choro por aqueles maus tratos. Mas há, por trás das lágrimas, algo que me diz que, se eu te encontrasse, você poderia bem dar uma risada e dizer: ‘Que boba, você. Nem lembro do primeiro ano! Eu, hein?’. Espero muito - você nem calcula o quanto - que possa ser mesmo assim. Que aqueles berros não tenham feito mal a você e que a sua vida tenha sido linda e especial. Eu acabei ficando pela escola toda a minha vida e tenho sido feliz. E eu fiquei forte, hoje brigo de verdade com quem grita com crianças e não trata as pessoas do jeito que elas merecem: bem, muito bem. Pensando hoje na rudeza que era o cotidiano daquelas professoras, eu entendo a dificuldade diária: muitas crianças, nenhuma ajuda, tarefa enorme, salário baixo, vida dura. Entendo que o trabalho era muito difícil e manter a calma talvez fosse pedir demais. Minha cabeça entende, mas meu coração, esse, não entende nada e continua a querer saber se está tudo bem com você. Receba um abraço da sua colega de classe – aquela bem pequena, quieta, de cabelo enroladinho preso, de óculos, bota ortopédica preta, sentada na frente, dividindo carteira com a Márcia, a loirinha falante, Susana’

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Vida nova

Há dias recebi uma prova de livro e pus-me a ler para lá, ler para cá. Ao chegar à última página encontrei a minha biografia. Muitas vezes, ainda nas primeiras provas, a nossa biografia aparece preenchida por letras aleatórias, que estão ali só para computar os caracteres. Mas neste livro não. Ao lado do meu nome, estava uma biografia linda. Não era minha, mas era linda. Ao lado do meu nome, um novo ano de nascimento – eu ganharia alguns anos (o que me daria direito à aposentadoria de que tanto preciso); um local adorável de nascimento, no Rio Grande do Sul e, melhor que tudo, uma tia contadora de histórias que teria alegrado a minha infância (justo eu, cuja única tia detestava crianças em geral e a mim em particular). Que vontade que me deu de ter, não aquela vida, mas aquela linda biografia... De, pelo menos, pedir para a editora manter aquele texto ao lado do meu nome. Em tempo: não por acaso, o livro será sobre Fernando Pessoa. Nota: fiz uma cópia da página com minha vida nova, eu sei que vou precisar dela qualquer dia desses.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Na estrada

- Filha, você que é uma intelectual, me diga quais foram as invenções mais importantes para a humanidade? - Divórcio e sorvete, pai. Não necessariamente nessa ordem. Silêncio profundo. Profundíssimo. Suspiro. - Filha, eu estava falando sério! - Eu também pai. Mas hoje não consigo pensar no coletivo, só no campo individual mesmo. E de uma perspectiva feminista...

domingo, 24 de janeiro de 2016

Realidades do interlúdio

Dia de atividades intensas, o táxi se aproxima do portão na hora marcada. Já fico animada. Aperto a mão do motorista, senhor Guimarães (meu afeto por Rosa me dá uma piscadinha), me apresento. Ah, uma hora e meia de viagem para estudar e rever os temas da fala! Abro o ‘Ficções do Interlúdio’ de Fernando Pessoa e... pigarro. Pigarro? Sim, pigarro, do senhor Guimarães, que me olha pelo retrovisor: - Perdão mas, posso fazer uma pergunta? Naturalmente que pode... - A senhora é artista? Não, não sou artista. - Ah, sabe? É que ‘eles’ não costumam buscar qualquer pessoa, normalmente eu levo artistas. Quando eu não reconheci a senhora resolvi perguntar. Não sou artista não. - Mas o que a senhora faz deve interessar, né? Táxi é caro, daqui para lá são dois municípios e ‘eles’ não mandam buscar qualquer uma. A senhora faz o que? Sou professora de literatura. - Ahhhhhh! Silêncio profundo, profundo, profundo. ‘Ficções do interlúdio’, vamos lá, ‘Ela canta, pobre ceifeira’...pigarro. - Posso fazer uma pergunta? Naturalmente que pode... - Literatura é o que mesmo? Sim, a vida real me chama. Vamos lá, fecho o livro. Começo pela canção que está tocando no rádio (sim, um daqueles flagelos diários que me batem no fundo do ouvido e me maltratam o cérebro e o coração). Lá vou eu pela história que está sendo contada pela letra e blá, blá, blá. Me entusiasmo, ele também parece entusiasmado e vamos falando, falando... Eu pergunto sobre a escola, o que ele viu na escola, quando foi... vamos em prosa, vamos em poesia... - Ah, isso é literatura? Que bonito... e a senhora fala tão bem, tão gostoso. Mas, posso fazer uma pergunta? Claro que sim (estudar ficou para uma próxima oportunidade, lógico, ali está a vida real à minha frente). - A senhora ganha p’rá falar disso ou trabalha em troca de transporte e comida? ... (No mundo perfeito eu morreria nesse instante, mas bem...)

Cinco bons motivos...

1) O bem vence o mal; 2) A justiça pode tardar, mas não falha; 3) Por pior que seja seu começo de vida, tudo pode dar certo depois; 4) A bondade e a honestidade são sempre recompensadas; 5) Nem tudo é o que parece e uma coisa aparentemente sem valor pode ser simplesmente a chave da felicidade. (Cinco bons motivos para ler e contar contos de fadas)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

´De onde vem o português?´, selecionado para o Catálogo da FNLIJ para a Feira de Bologna. Que alegria! O catálogo completo pode ser baixado em www.fnlij.org.br - vale a pena ver a imagem de Brasil que a Fundação levará a Bologna neste 2016.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Mais uma imagem, mais um pouco sobre o novo livro

Mais uma imagem, leitura visual da Carla Irusta para o novo livro. Um ônibus-dragão, fumacento e engraçado, que leva uma garota de uma cidade para outra. Hoje escrevi um pequeno texto sobre mim para o livro. Por vezes uso um texto padrão, atualizado e com informações relevantes para o trabalho que vai sair mas, no mais das vezes escrevo uma nova minibiografia a cada vez, especialmente se o livro recebeu cuidado gráfico especial. É o caso deste livro: resultado de uma Bolsa de Criação Artística, a primeira que recebi na vida e que foi uma honra. No próximo post, mais um pouco sobre este trabalho tão bom de fazer.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Missa de sétimo dia - Gilberto Mendes

A missa foi bonita, mas dolorida. Missa de 7o. dia, quase só com os amigos daquele que partiu e foi um grande músico. Já tudo terminado, o pequeno grupo no jardim da igreja ensaiando despedidas, uma criança, a única presente ali, pegou a cestinha em que estiveram pétalas de rosas e pôs-se a cantar: ´Pela estrada afora eu vou bem sozinha...´ Não contive uma risada, da mais pura alegria diante da presença da vida, da música, dos contos de fadas, ali, depois de tudo. A queridinha devia ter cinco anos, se tanto. Criança muda tudo, música muda tudo. O grande músico se foi, nós estamos ainda um pouco e a música seguirá, sem nós, mas seguirá.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Nova York em maio

A Brasil em Mente (http://www.brasilemmente.org/) anunciou hoje a palestrante principal de sua próxima Conferência sobre o Ensino, Promoção e Manutenção do Português como Língua de Herança, que ocorrerá em maio de 2016 em Nova York e, para minha alegria, sou eu! Venho acompanhando o trabalho de excelência realizado pela Brasil em Mente há cerca de dois anos e conheci a Felicia Jennings-Winterle, que dirige a BEM, durante a Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Muitas conversas virtuais, alguns encontros em São Paulo, uma série de textos a cruzarem os ares nestes anos até que chegássemos ao dia de hoje. Há Em sua 3a. edição a Conferência gira em torno da questão "Quais são as heranças dessa herança?" e mais sobre o evento pode ser lido na chamada que está no link http://www.brasilemmente.org/conferecircncia-2016-plh-quais-satildeo-as-heranccedilas-dessa-heranccedila.html

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Um livro que começa a ficar pronto

Há várias fases do trabalho de escritora: do nascer de uma ideia ao deambular para falar sobre algum livro (às vezes anos depois de sua publicação, quando é preciso ir à estante, pegar seu exemplar de trabalho e voltar a ler, reencontrando-se com algum aspecto do livro ou com ele como um todo). Uma das fases mais emocionante é a chegada de provas de um novo livro. Há casas editoriais que ainda mandam provas em papel (eu acho uma delícia). E aquele maço de folhas vai e volta, marcado a lápis, depois a caneta, às vezes a várias cores, em idas e voltas. Na maior parte das vezes, no entanto, as provas são virtuais: o arquivo chega, para ser aberto e revelar surpresas. Houve um livro, o meu primeiro infantil, que eu não tive coragem de abrir sozinha. Apoderou-se de mim estranho medo. Telefonei a uma amiga, mandei-lhe uma cópia e juntas abrimos e vimos, cada qual em sua casa. Ontem chegaram provas e, com elas, a emoção de ver, pela primeira vez, em quatro cores, as ilustrações da Carla Irusta para o livro. E de ver o projeto gráfico proposto por outra fera, a querida Carla Arbex. E de enfrentar de outro jeito o texto que, há dois anos, começou a sair da minha cabeça e teve muitas etapas até chegar à sua forma final, em outubro de 2014. Para marcar este Dia de Reis, tão especial para mim, faço este post e divulgo uma das imagens criadas pela Carla Irusta. Outro dia eu conto mais, bem mais, sobre este próximo livro.