A bela e a fera

A bela e a fera
arte de Mateus Rios, para adaptação realizada por Susana Ventura

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Eu vou de táxi

Eu vou de táxi... (Fim do evento no Museu do Fado. Táxi para passar em casa, pegar a mala e rumar para o aeroporto de Lisboa. O rádio fala da ventania que vem da Espanha e ameaça fechar tudo... ) - Ai, minha senhora, de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos, já dizia minha avó...e eu me pergunto o motivo. Vai ver alguma princesa que se casou com príncipe de lá e não foi feliz. Aquela gente... (Indo de Pinheiros para Congonhas, o taxista freia na primeira esquina e encosta junto da calçada) - Aeroporto, a senhora disse? Então vamos voltar e pegar a mala. A senhora parece mesmo muito cansada e não dá para viajar só com essa bolsa, não é? Esqueceu a mala, mas não se preocupe: isso é normal... (Mesma noite, chegando ao aeroporto da cidade desconhecida perto da meia noite. Só com aquela bolsa mesmo. O simpático taxista me espera com uma plaquinha na mão. Leio meu nome e aceno. Vinte minutos de viagem até o hotel indicado pelos organizadores da Feira e...) - Susana, assine aqui o boleto. Pronto. Vou lá com você ver se está tudo certo com a reserva. [Protesto!] - Precisa sim, imagina se eu deixo você aqui sozinha e a reserva não está feita E por favor, amanhã não fique andando por aí sozinha. Qualquer problema me telefone, não se acanhe, eu já vi que você não consegue fazer nada sozinha! (Novamente táxi para ir de Pinheiros para o aeroporto de Congonhas) - Se importa de me dizer o nome do seu perfume? Eu vou comprar para a minha mulher. Eu nem sei como me casei com ela porque não acredito no amor . Mas adorei o seu perfume. (Feira literária looonge e o responsável pelo transporte dos escritores, depois de dois dias me ‘transportando’) - D. Susana, pelo amor de Deus como é que ontem à tarde a senhora fugiu de nós e foi tomar ÔNIBUS? Não faça mais isso! Estou com o seu celular aqui e eu vou monitorá-la! Não é porque eu lhe dei o mapa que a senhora pediu que a senhora deva sair por aí como se morasse aqui! A senhora precisa tomar consciência de que é frágil. [Eu sou só espanto e vejo os olhos do interlocutor se encherem de lágrimas de repente] - A gente olha assim para uma pessoa boa como a senhora e se pergunta: que tragédia terá acontecido na vida desta pobre mulher para andar assim sozinha pelo mundo, sem uma ALMA VIVA que a acompanhe? Mas enquanto estiver aqui nós cuidaremos da senhora! (Lisboa, indo do Alto de São João para a Faculdade de Letras) - A senhora gosta de fado? Eu sou fadista. [Digo o lugar que frequento aos sábados] Não posso crer! Eu canto lá aos domingos! Mas cá está o número do meu telemóvel: me avise se vai neste sábado, que passo por lá para cantar um fadinho para a senhora. Aliás, canto um já agora mesmo...

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